15 de abr. de 2015

Charlie Hebdo e o ataque no Quênia

Por Paulo Vitor e Lis Cappi`

No dia 02 de abril, o grupo radical islâmico Al-Shabaab atacou a Universidade de Garissa, no Quênia. No atentado, um grupo de atiradores entrou na universidade disparando balas e explosivos indiscriminadamente. A invasão feita pelo grupo matou 148 estudantes. O ataque foi o segundo mais violento no Quênia, ficando atrás apenas do que foi executado pela Al-Qaeda em 1998 contra a embaixada americana, no qual 213 pessoas morreram.
            Pouca atenção foi dada ao recente massacre, diferentemente do enfoque dado ao ataque à redação do jornal francês de Charlie Hebdo, que aconteceu em 07 de janeiro deste ano e causou a morte de 12 pessoas. Na ocasião, houve uma extrema cobertura mediática, além de diversas ações de pessoas das mais diferentes partes do mundo, como passeatas e campanhas virtuais.

Sem tirar o mérito do apoio dado a Charlie Hebdo, mas, qual seriam os motivos da ação mediática ter sido tão diferente nos dois casos? O que pode ter levado as pessoas agirem de maneiras tão diferentes em situações, em tese, parecidas? A imprensa anglo-saxã também trás questionamentos como esses, e fala sobre a "hierarquia de morte", isto é, o fato de algumas vítimas receberem uma maior cobertura que outras, principalmente em notícias internacionais.
Algumas justificativas comuns a essas perguntas são as notícias serem relacionadas à proximidade, isto é, o público ter um maior interesse em acontecimentos que ocorrem no próprio país e em países próximos, não só geograficamente, mais também no vínculo que temos com eles, ademais, na qualidade de informação, com a prerrogativa de que em determinados países há mais acesso à informação e correspondentes internacionais/enviados especiais "fixos".
            Em 1965, na obra A estrutura do noticiário estrangeiro: a apresentação das crises do Congo, Chipre em quatro jornais estrangeiros, Johan Galtung e Mari Holmboe Runge, ao se perguntarem como os acontecimentos se transformam em notícias, chegaram as doze valores-notícia: freqüência, amplitude, clareza ou falta de ambiguidade, relevância, conformidade, imprevisão, continuidade, referência a pessoas e nações de elite, composição, personificação e negativismo.
             O valor-notícia frequência, comparando o caso Charlie Hebdo com o da Universidade africana, se mostra claro no seguinte dado do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), divulgados em 2012: enquanto a África tem um taxa de homicídio de 12,5 por 100 mil habitantes, a Europa possui apenas 3 homicídios por 100 pessoas.. Ou seja, a violência está tão exacerbada no continente africano que se tornou algo banal, indiferente a nós e a grande mídia. O valor-notícia relevância pode ser explicado pela pouca importância que o Quênia tem na imprensa, na comunidade internacional e no cenário econômico. Para se ter uma ideia só o PIB (Produto Interno Bruto) da capital francesa Paris é de 813,4 bilhões de dólares, e o o PIB do Quênia é de 55,24 bilhões de dólares.
            O Jornal Nacional, da Rede Globo, telejornal de maior audiência no Brasil, no dia do ataque ao jornal satírico reservou 19 minutos e 23 segundos de reportagens sobre o assunto. Por outro lado, no dia do atentado à Universidade no Quênia, foi ao ar apenas uma reportagem sobre o caso de apenas 02 minutos e 36 segundos.
            A grande mídia, muitas às vezes, não desempenha o papel de dar voz àqueles que mais necessitam. Os comunicadores deveriam tratar de temas mais relevantes com mais profundidade, dedicar mais páginas de jornais e revistas e mais tempo na televisão e no rádio. Dessa maneira, a imprensa criaria mais discussões acerca de temas que acabam sendo esquecidos ou até nunca vistos por grande parte das pessoas.
            

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