2 de nov. de 2011

Vale tudo pela audiência?

Por Lucas Corrales
Conhecido como Olimpíada das Américas, a 16ª edição dos Jogos Pan-Americanos encerrou-se no último domingo. O evento, realizado na cidade mexicana de Guadalajara, contou com a participação de cerca de seis mil atletas, divididos em 42 delegações. Além do interesse que competições esportivas de grande porte naturalmente despertam, aqueles que debatem a mídia tiveram mais um motivo para acompanhar de perto os jogos. Apenas a Rede Record deteve os direitos de transmissão televisiva do Pan, e não os dividiu nem mesmo com as tradicionais emissoras de TV fechada, como ESPN e SporTV. A única alternativa à cobertura do canal do bispo Edir Macedo foi a internet, pelo portal Terra.

Em 2008, a Record comprou os direitos de veiculação das Olimpíadas de Inverno de Vancouver 2010, do Pan de Guadalajara e dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Além disto, no fim da transmissão dos jogos deste ano, a emissora anunciou a compra dos direitos do Pan de 2019. Com o objetivo de bater a hegemonia da Rede Globo, a emissora motiva-se pelos grandes índices de audiência conquistados durante mega competições. Assim, o canal recusou-se a negociar os direitos de imagem dos eventos com outras redes de televisão aberta. No caso do Pan 2011, a situação foi ainda mais drástica. Nenhuma outra emissora, de TV aberta ou fechada, transmitiu o evento.
Essa briga pelo primeiro lugar na audiência, tão marcante no caso da Rede Record, mostra-se prejudicial ao amante do esporte. Aquele que desejou assistir às mais diferentes modalidades pela televisão teve que se sujeitar à escolha da programação do canal. Por outro lado, a Rede Globo comprou os direitos de transmissão dos três Pan-Americanos anteriores, sendo em 1999 e 2003 detentora exclusiva. Com exceção ao Pan de 2007, realizado no Rio de Janeiro, a emissora não mostrou nenhuma competição na íntegra, exibiu apenas flashes ao vivo durante a programação. Só o canal pago SporTV transmitiu os jogos. Logo, quem quisesse acompanhar o Pan viu-se obrigado a manter a assinatura. Vale lembrar que a emissora pertence às Organizações Globo.
Exemplos do quão prejudicial a briga pela audiência pode ser. Monopolizar a atenção do fã de esportes é uma estratégia ética para aumentar a audiência? Nem todos que desejam acompanhar eventos esportivos dispõem de assinatura de televisão a cabo ou possuem acesso à internet. Assim a população fica distante do esporte. Não vale apenas cobrar das entidades esportivas por mais medalhas na olimpíada. Nem mesmo querer mais investimento do governo. Devemos cobrar também os veículos de comunicação. Eles deveriam servir como plataforma de apoio à prática esportiva. Além de ajudar a melhorar os resultados brasileiros em competições, influenciaria também no aspecto social. Maiores índices de audiência devem ser buscados, mas de forma que o telespectador e toda a sociedade também saiam com a medalha de ouro.

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